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Olhando ao redor da floresta amazônica hoje é difícil imaginá-la cheia de pessoas. Mas nas últimas décadas arqueólogos encontraram evidências de que antes da chegada de Colombo, a região teve até mesmo cidades. O grau de ocupação humana na Amazônia continua a ser muito debatido, porque diversas áreas da floresta tropical de 6 milhões Km² permanecem inexploradas. Agora os pesquisadores construíram um modelo de previsão onde os sinais de agricultura pré-colombiana serão mais fáceis de serem encontrados, e eles esperam que essa ferramenta ajude a orientar futuros trabalhos arqueológicos na região, relata uma matéria da revista Science desta semana.
 A revista diz que arqueologia na Amazônia ainda está em sua “infância”. Não só é difícil montar escavações em larga escala no meio de uma floresta tropical, mas até recentemente os arqueólogos presumiam que não havia muito para descobrir. O solo amazônico é notoriamente de má qualidade, todos os nutrientes são imediatamente sugados pela floresta assombrosa, por conta de sua biodiversidade. Por muitos anos os cientistas acreditavam que o tipo de agricultura em grande escala necessária para apoiar as cidades era impossível na região. Descobertas de terraplenagem gigantescas e estradas antigas, no entanto, sugerem que a região foi densamente povoada com centros de longa duração. O segredo agrícola? As agriculturas pré-colombianas enriqueceram o solo, criando o que os arqueólogos chamam de terra preta.

A matéria explica que terra preta, literalmente “terra negra”- é o solo que os seres humanos têm enriquecido a ter duas a três vezes o teor de nutrientes das imediações, solo de má qualidade, explica Cristal McMichael, paleoecologista no Instituto de Tecnologia da Flórida, em Melbourne. Embora não exista uma definição padrão para a terra preta, ela tende a ser mais escura do que outros solos da Amazônia e possuem carvão vegetal e fragmentos de cerâmica pré-colombiana misturadas dentro. A maior parte foi criada entre 2500 e 500 anos atrás. Como as obras de terraplanagem, a terra preta é considerada um sinal de que uma determinada área foi ocupada por seres humanos no passado pré-colombiano.

Analisando a localização e dados ambientais de terra preta, em mais de 1000 sites, e comparando com informações de solos sem nenhuma terra preta, a equipe de pesquisadores encontrou padrões de distribuições e solos enriquecidos. Os cientistas concluíram que é mais provável que se encontre terra preta na Amazônia central e oriental, perto de rios, chegando ao oceano atlântico. É menos provável que se encontre na Amazônia Ocidental, onde o escoamento dos Andes adiciona naturalmente nutrientes ao solo, e em áreas montanhosas, como Llanos e Moxos, na Bolívia, onde se encontra muitas terraplanagens pré-colombianas. Analisando as condições ambientais associadas à terra preta, a equipe de pesquisadores descobriu um modelo de previsão onde a terra preta é mais provável de ser encontrada. A suspeita é de que há 154.063 km² de terra preta na Amazônia, compondo cerca de 3,2% da área total da bacia.
Não só os locais prováveis de terra preta revelam possíveis padrões de ocupação humana na Amazônia, mas também dá os arqueólogos “ponto de partida” para futuras escavações, diz McMichael. “Dentro de uma floresta de quase 6 milhões de quilômetros quadrados, é difícil para os arqueólogos determinar a localização para a amostragem”, explica ela.
A revista ressalta que outros especialistas sobre a Amazônia são mais céticos. Michael Heckenberger, arqueólogo da Universidade da Flórida, em Gainesville, que não esteve envolvido na pesquisa, aponta para uma possível discrepância nos métodos de amostragem utilizados pela equipe de McMichael. Os levantamentos feitos para fazer o modelo estatístico, diz ele, “só acontecerá onde houve levantamento arqueológico intensivo.” As áreas designadas como terra livre-preta, por outro lado, foram mostrados e categorizados por ecologistas e geólogos, muito antes de alguém estar à procura de terra preta ou outros sinais de assentamentos pré-colombianos na Amazônia. Só porque uma região é rotulada de terra livre-preta, não significa que não há nenhuma terra preta lá, diz Heckenberger. Significa apenas que os arqueólogos não estavam lá para olhar ainda. Mapa de McMichael “serve como um lembrete de que nós não sabemos” sobre o passado da Amazônia, diz ele.
McMichael concorda que um rótulo sem terra preta não deve ser tomado como prova de que os seres humanos nunca se estabeleceram em uma região. A relativa falta de terra preta em torno das obras de terraplanagem de Llanos de Moxos, na Bolívia, prova que os seres humanos não necessariamente enriqueceram o solo, ou fizeram da mesma forma em todos os lugares que viveram, diz ele. “Eu acho que as culturas se adaptaram de forma diferente para as diferentes condições ambientais”, a criação de terra preta, onde o solo natural foi particularmente fraco, modificou seu ambiente de outras formas em regiões onde eles não necessariamente precisaram enriquecer o solo para suportar grandes populações.
McMichael espera usar seus métodos estatísticos para modelar todos os tipos de impactos humanos antigos na Amazônia. Sua equipe tem o papel de prever os locais das obras de terraplanagem e, eventualmente, ela espera criar um mapa de correlação entre os assentamentos humanos do passado com vários padrões ecológicos. Se os seres humanos pré-colombianos incentivaram a propagação de certas plantas e animais que encontraram útil nas regiões em torno de seus assentamentos, por exemplo, que pode afetar a distribuição das espécies na Amazônia hoje. Logo, os cientistas podem ser capazes de ir além da terraplanagem e da agricultura e ler a história da Amazônia na própria floresta, finaliza a matéria da revista.
Foto: Acervo Arqueotrop
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